quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A MORTE DE BUSH

A Morte de Bush
(por Athos e Rose de Castro)

Caía a tarde em um hotel fazenda no Mato Grosso do Sul.
Patrus e Rosa estavam em lua-de-mel. Tinha sido uma longa viagem de São Paulo até Rio Bonito. O ônibus não era lá muito confortável. Entretanto, eles estavam adorando as paisagens proporcionadas pela bela cidade turística.
Patrus dormitava na rede na varanda com um livro sobre a vida de Che Guevara. De repente ouve a sonora e suave voz de Rosa.
- Patrus! Vamos passear pelas trilhas dessa mata, deixa os livros de lado um pouco e vamos respirar o ar puro desse Mato.
- Vamos passear e conversar. Precisamos de silêncio e espairecer. Ok.
O som vindo das matas será a nossa companhia por alguns momentos. Ouviremos o silêncio da natureza, o grito dos grilos, dos sapos, das cutias, enfim da mãe natureza.
- Espero não encontrar um cobra jararaca no nosso caminho! – exclama Rosa.
- Que eu saiba tua mãe não está por aqui... - Patrus era muito brincalhão.
- Para com isso Patrus, minha mãe é boazinha.
- Boazinha...
- Com esse calor, vamos lá à cachoeira. O que vamos conversar? Alguma coisa te preocupa?
Patrus estava agitado, nem o suave barulho da queda d’água o tranqüilizava. A tarde estava calma e o sol brilhava como os olhos de Rosa, tanto quanto a primavera em Rio Bonito. Sentaram-se em uma rocha e começaram, entre carícias, um diálogo, que ambos adoravam. Utopia, transcendência.
- Busco transcender e fazer de minhas utopias, poesias,verdadeiras almas para minha vida. Soltou Rosa a esmo.
- Se não sonharmos como concluir o pensamento? Como pensarmos, como amarmos? Como transformar o mundo, o nosso mundo?
- Os pássaros cantam, está ouvindo Patrus? Ser bela e inteligente não basta num mundo cheio de nãos...
- Rosa! Será que não temos que ser realistas. Viver a realidade crua e viva com suas verdades e mentiras? Alguém disse que as rosas não falam? Quero que continue, Rosa, sou todo ouvido...
Rosa cala-se por instantes. Pensa na Rosa de Hiroshima. Suas pétalas radioativas... Olha para Patrus e como num despertar curioso, pergunta com um olhar calmo.
- Patrus, rosas radioativas falam?
- Falam, mas falam em silêncio. Um silêncio de décadas eternas e mutila inocentes. Uma rosa sem espinhos, uma rosa enfumaçada, uma rosa calada, uma rosa que vem devagarzinho. A conseqüência da rosa de Hiroshima Rosa é a mutilação da humanidade.
- Então sou rosa de sobras radiativas.
- Tu és a radiação que me cativa.
Patrus silenciou. Havia algo no silêncio de Patrus. Rosa era a meiguice em pessoa, era o sonho utópico ao redor do seu longo silêncio. Eram carícias à beira do riacho.
O silêncio permaneceria se não fosse um ruído de alguma coisa caindo com as águas da cachoeira.
- Alguém se jogou na cachoeira. - comentou Patrus.
- Será?
Patrus caminhou até a margem do riacho e observou.
Havia um corpo estirado. Boiando nas águas límpidas da cachoeira. Rosa, abruptamente, interrompeu seus questionamentos e correu para olhar.
Quando Rosa virou o corpo e reconheceu o rosto do cadáver, sua face transformou em pavor e soltou um grito.
- Nãããããoooo! Patrus! Que horror! - virando seu rosto para o lado ao deparar com a face de uma conhecida pessoa.
Patrus abraçou-a. Rosa estava trêmula. Desejou ardentemente voltar para mesma tranqüilidade de seus questionamentos e rebobinar a cena antiga. Estaria fazendo parte de crime? Ainda não, era expectadora inocente da peça.
Num ímpeto, o abraço se desfez e Rosa desceu ribanceira abaixo, transtornada e apavorada com a visão.
- Vamos! Vamos embora, Patrus!
- Não! Rosa, quem é esse homem? Responda-me Rosa?
- Não está vendo amor? Olhe... Está tatuado com marcas de objeto cortante. Vê? Por baixo do sangue... Oh! Patrus!!!!!!!!!!! É o Bush!!!!!!!! Olhe o recado marcado no corpo:
Autor: BIN LADEN.

Rose de Castro

CARTA FATAL

Doutor Montanha era um médico talentoso. Cancerologista. Todos o procuravam pela sua fama. O nome lhe fora dado pelos colegas de trabalho como gozação proveniente de suas estatura, media 1,56m. Era magro e calvo. Era tão pequeno que todos diziam que se ele tirasse um retrato 3x4, sairia de corpo inteiro, devido a sua estatura.
Todos que o conheciam também sabiam que ele possuía uma grande fraqueza: Mulheres. Tinha uma grande lábia e conquistava várias mulheres e todas belas; ninguém entendia como aquele homem tão pequenino conseguia conquistar tantas beldades lindas, altas e inteligentes. As domésticas também não escapavam à sua lábia. Com seu papo de conquistador, aumentava a oferta para que a empregada lhe servisse de outras maneiras.
Montanha era um amante de festas. Realizava-as em seu sítio. Matava bois para aquele churrasco completo, regado à bebida e carne fresca. Todos o admiravam. Todos queriam estar no lugar dele e se perguntavam como ele conseguia ser tão bem sucedido e invejavam sua alegria.
O Doutor teve apenas um filho de uma de suas amantes. Um dia sem mais nem menos trouxe o moleque para a sua casa, onde morava com sua esposa: A bondosa e paciente Maria Anunciação. No início não falou que era seu filho. Cara de pau, dizia que era filho de um amigo que morrera e não tinha onde ficar, mas a semelhança com ele não dava para disfarçar. Na verdade ele não ligava para o que sua esposa iria pensar. Um dia a verdade foi descoberta, mesmo Anunciação esperneando, o menino Paulinho foi registrado por ela e pelo Doutor como filho.
Maria Anunciação já havia se apegado ao menino e não criou nenhuma barreira. Era apaixonada pelo seu marido. Mulher bondosa e humilde possuía um coração que cabia o mundo, tratava do menino como se fosse seu filho. Gostava tanto do marido que fechava os olhos para tudo o que ele fazia, não dava trela para o que diziam e fingia que ela era a única. Pobre mulher que se humilhava para não perder seu amado...
Todos os dias, Montanha tinha por lei, após sair do trabalho, “bebericar” num bar da esquina de sua casa. Sua mesa vivia sempre cercada de mulheres e alguns homens que se sentavam para beber de graça, já que ele sempre bancava todo mundo. Ele sabia disso, mas não ligava, só queria ser feliz. Gostava de ver todo mundo tratando-o como seu ele fosse um Rei. Chegava em casa de madrugada e Anunciação nunca lhe perguntava nada. Aceitava tudo com naturalidade.
Maria era bem mais velha que ele. Possuía quase vinte anos a mais. Um dia, ao chegar a casa, Montanha a encontrou no chão. Olhou seu pulso e percebeu que morrera. Enterram-na e pelo que parecia ele não sofreu muito, em seu velório sorria e cumprimentava a todos, encaminhando os convidados até o lugar onde ela jazia com o rosto sereno. Suas amantes estavam lá. Todas conheciam umas as outras. Nada de briga, tampouco discórdia. A paz reinava no velório de Maria Anunciação.
Até que chegou o momento do Doutor Montanha aposentar-se. Como gostava muito do que fazia, para ele foi uma desolação. Sem sua falecida esposa, vivia mais nos bares do que praticamente em seu domicílio. Bebia mais do que podia suportar, mas surpreendentemente, no dia seguinte, acordava cedo como se fora trabalhar e sempre com disposição para encarar mais um dia no barzinho da esquina.
Passou-se o tempo e por razão de muito tossir – fumava além do que seu pequenino pulmão permitia -, resolveu procurar um pneumologista e fazer um exame. Na Mosca! O laudo acusava um enfisema pulmonar. Passou a tomar xaropes e remédios, mas quando passava no barzinho esquecia sua medicação e tomava umas e outras. Nesta época ele já estava com Jandira, mais uma de suas vítimas, porque mesmo doente, continuava com sua vida boêmia; suas várias mulheres e amigos de copo.
Um ano se passou e Doutor Montanha se viu obrigado a usar respirador artificial, já não respirava direito, tossia muito e Jandira sempre ao seu lado apoiando-o e cuidando dele com muito amor e carinho. Mas o Doutor, sempre desconfiado e já esclerosado, insistia que a pobre Jandira estava de olho na herança dele. Brigava sempre com ela repetindo sempre que ela queria que ele morresse para ficar com seus bens. Resolveu fazer seu testamento deixando tudo para o filho Paulinho e, a ela, uma pensão, que depois mais tarde ameaçou cortar, continuando a enfatizar que o que Jandira queria era seu dinheiro.
Já era madrugada, e seu filho, já casado, recebeu uma ligação de Jandira: “Paulinho? Seu pai piorou. Acho que está morrendo”... Foi um corre-corre, um Deus-nos-acuda! A “mulherada” toda telefonando para saber detalhes e seu filho abatido mal conseguia falar. Levaram-no para o Hospital, mas não teve mais jeito. Doutor Montanha, com o um leve sorriso zombeteiro e ao mesmo tempo como se estivesse vivo, repousava no velório com seu terno branco e engomado pela própria Jandira. Via-se mulheres fuxicando por todos os lados; algumas chorando e ainda não acreditando na sua morte; outras suspirando. Homens? Dois ou três; no máximo. Na hora de levar o caixão – apesar da situação trágica, chegou a ser cômico -, as mulheres carregaram a alça do caixão.
Chegou o dia em que Jandira e Paulinho foram fazer limpeza no apartamento do Montanha e decidir quem ficaria com o quê. Tirar todos aqueles papéis velhos que ele guardava com tanto segredo e cautela, inclusive o Testamento. Este foi o dia que Jandira jamais se esqueceria.
Paulinho abria uma por uma as caixas de papéis amareladas e a caixa que ele guardava com correspondência e lá estava ela: A Carta fatal. A missiva que nenhuma mulher suportaria, nem mesmo Jandira, com toda a sua paciência e complacência. Paulinho leu e ficou vermelho. Chamou Jandira e entregou a ela.
Jandira foi lendo e começou a ficar desnorteada e bufando, dizia: Velho safado! Miserável! Nunca me deu nada e ainda queria tirar minha pensão... Ordinário!
Depois do choque, olhou para o Paulinho e leu devagar, com todos os erros de português contidos na mesma. A carta era da última empregada dele que não era muito instruída: “Sr. Montanha, eu espero que " você" pague o meu carne, porque palavra é palavra. Eu cumpri a minha, agora "você" que cumpra a sua, senão eu vou contar "tu Dinho" para a "Dana" Jandira. O problema é seu se "você" não gozou. Foi você quem quis assim. Você pediu para que eu tirasse a roupa e eu tirei, agora o problema é da Sua Pessoa. "Pesso" para que voce ligue para o Dr. "Govea" da Imobiliária e mande o "carne" quitado para mim" conforne" nois combinemos. Olha," voce" diz que eu sou gananciosa, mas eu não sou. Eu te quero muito bem. Hoje quando eu fui aí esperava que" voce" fosse mais carinho. Mas voce fez tudo errado e só pra te sacanear que eu não te ajudei a gozar. Mas," ói", quando "voce" quiser que vir dormir ai, é so mandar me chamar que eu farei tudo direitinho, serei bem boazinha com voce”. Assinado: Morena.
Jandira amaldiçoou o falecido e jurou que nunca mais iria derramar uma lágrima por ele. Iria recorrer pelo tempo que ficara com ele e receberia tudo que tinha por direito sem pensar se ele lá de cima estaria gostando ou não. Seu rosto estava mais estático que a estátua da Deusa sem braço que ficava ao lado do sofá. Sem nenhum movimento. Séria. Calada. Mais com sua dignidade intacta.
Paulinho, sem saber o que falar, despediu-se de Jandira e foi pensando pelo caminho: “Nunca se brinca com o sentimento de uma mulher...” Ninguém sabe do que uma mulher ferida é capaz quando enganada... Pobre Jandira...

Rose de Castro


A CARTA

Sonhei que escrevia pra você. Atenta, não deixei escapar nenhum detalhe. O tempo corria; e, eu, escrevia...

O relógio no seu tique taque paciente e sóbrio, lentamente percorria seus ponteiros, como que me permitindo o prazer de estar escrevendo o que estava escrevendo. O relógio e o tique taquem. O tique taque... Tique taque... Tique taque..

O cheiro de verde respingado de frio resfriando minha narina lembrou-me algo que escrevi e tinha cheiro. Cheiro de orvalho misturado às margaridas e ao latido do meu cão.

Abri os olhos. O sol levantou mais cedo que de costume ou será que errei na hora? Busquei a carta... Da carta eu lembrava, mas o conteúdo...ah...o conteúdo? O sonho guardou em sua memória de cego e levou para o subconsciente, que sonolento e indiferente, não consegue me dizer o que estava escrito na carta.

Tique taque... hora... hora...

No relógio, o sonho da carta perdida em palavras...

Ainda bem que esquentou.

O frio deu um tempo.

Continua ainda no verde o tique taque da carta.

O céu vai nublando aos poucos, sem se importar se é “vero”. Sem querer saber de “lero”, bolero e o cheiro de mato da carta.

O conteúdo??

Tique Taque.



Rose de Castro
A ‘POETA’